quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Genética e ética: até onde essa relação fornecerá benefícios?




A divulgação da seqüência do genoma humano em fevereiro de 2001 (Venter et al., 2001) abriu uma nova era para a biologia, a medicina e a saúde pública. O Projeto Genoma Humano gerou uma imensa base de dados de seqüências genômicas e número crescente de genes é descrito. A velocidade com que esse conhecimento vem sendo disseminado traz, ao lado da esperança de cura para certas doenças, o receio das conseqüências adversas que possam vir a sofrer indivíduos saudáveis, porém portadores de determinadas alterações genéticas (Ellsworth & Manolio, 1997). As informações e as tecnologias disponibilizadas com o desenvolvimento do Projeto Genoma Humano têm potencial para modificar gradativamente a compreensão e os conceitos atuais sobre os mecanismos de prevenção, diagnóstico e tratamento de inúmeras doenças crônicas bastante comuns como câncer, demência, doença de Alzheimer, etc. Por meio de técnicas de biologia molecular é possível não apenas identificar precocemente determinadas doenças, mas também detectar indivíduos suscetíveis e, ainda, avaliar no meio interno do organismo o grau de exposição a agentes exógenos (Wünsch Filho & Gattás, 2001).
De acordo com a legislação trabalhista, empregadores podem selecionar seus empregados com base no grau de instrução e na analise curricular, mas condições específicas como idade, sexo, cor de pele e origem étnica não podem ser usados como critério de seleção.
Em países como o os Estados Unidos, por exemplo, tem se usado informações genéticas como parte de processos seletivos. Estimaram que cerca de 7% das empresas americanas já fazem uso do screening (triagem) genético na seleção de seus trabalhadores (Austin et al., 2000).
Esse método de seleção se deve ao fato de que as empresas tendem a buscar empregados com especificidade para determinados ambientes de trabalho, como por exemplo, determinação de doenças como decorrência da interação entre a especificidade de um genótipo particular e a exposição a substâncias tóxicas presentes no ambiente de trabalho. Mas até onde essa seleção será benéfica?
A discriminação genética no trabalho, apesar das novas tecnologias da biologia molecular, não é um fato novo. Na década de 1970, bem antes do início do Projeto Genoma Humano, os negros americanos que possuíam traços genéticos para anemia falciforme eram impedidos de contratação em determinadas ocupações, embora apresentassem condições adequadas de saúde e ausência de riscos de virem a desenvolver a doença (Rothenberg et al.,1997). São exemplos como esse que mostram um exemplo simples do uso indevido de informações genéticas.
[...] estima-se que com um sistema integrado de informações, a prática da medicina e da saúde pública no decorrer do século 21, deverá ser influenciada gradativamente, modificando de forma profunda a prevenção, o diagnóstico e o tratamento de doenças (Collins, 1999). Há estudos apontando genes que seriam potencialmente responsáveis, por exemplo, pelo alcoolismo, tabagismo e distúrbios comportamentais (Plotsky & Nemerof, 1998; Bergen & Caporaso, 1999; Collins & Mckusick, 2001).
Este tipo de informação genética, potencialmente, apresenta riscos de usos inadequados nos locais de trabalho e por companhias seguradoras. Os efeitos de tudo isso sobre a práxis em saúde do trabalhador são evidentes, embora não possam ainda ser completamente dimensionados.
Visando esse obstáculo diante dos avanços genéticos, esse artigo traz a questão ética a ser discutida, e que de certa forma fica ainda sem respostas e teremos durante um tempo ainda mais questões levantadas.
  • Até onde tantas descobertas genéticas serão favoráveis ao desenvolvimento humano?
  • Os investimentos em pesquisa seriam mesmo o interesse na descoberta de cura pra doenças?
  • Seriam empresas ou seguradoras as mais interessadas em obter informações?
  • Como essas informações ficarão armazenadas?
São questões como estas que ficam e ficarão por um longo tempo sobre discussões, afinal o fato de se descobrir doenças levando a um rápido diagnóstico e à cura é apenas uma das versões para investimento em pesquisas, por outro lado saberia – se, por exemplo, o tempo de vida das pessoas e a que ambiente algumas não poderiam estar expostas. Com informações como essas, poderia então existir maior discriminação e até interesses de seguradoras em buscar por pessoas que lhes forneceriam lucro por exemplo.
Portanto esse não é um caso isolado, que deve ser pensado apenas por cientistas, mas sim por todos nós.

Baseado no artigo - Genética,biologia molecular e ética: as relações trabalho e saúde*

Um comentário:

  1. Achei o assunto muito interessante. Apesar de um tema complexo leva nos a pensar sobre tanto desenvolvimento Científico.Acho ainda que seria importante cada vez mais a disseminação do assunto.

    Luanna

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